Emerson Danesi é uma espécie de curinga de Antunes Filho. A versatilidade de Danesi, que atua como ator (na série Prêt-À-Porter) e diretor (Lamartine Babo, escrito por Antunes, em cartaz atualmente no SESC Consolação, São Paulo) do CPT, é absolutamente inspiradora e admirável. Uma prova disso é o espetáculo Coletânea 2, que compõe a programação do 2° TEMPO_FESTIVAL, uma homenagem de Antunes para um dos seus mais fiéis escudeiros.
Confira aqui uma entrevista exclusiva de Emerson para o Tempo Contínuo:
TEMPO FESTIVAL: Como surgiu a idéia de se realizar Coletânea? Qual o critério de escolha das cenas destes espetáculos?
EMERSON DANESI: Com a comemoração dos dez anos de existência do projeto e com o lançamento da exposição Mais ou menos dez anos de devaneio, Antunes resolveu juntar algumas cenas que fizeram parte da história do Prêt e lançar as coletâneas. O critério utilizado nessa Coletânea 2 foi uma espécie de homenagem que ele quis fazer a mim, por estar desde o princípio do projeto. Então, ele escolheu três cenas: Estrela da Manhã (Prêt-à-Porter 6), Ponto Sem Retorno (Prêt-à-Porter 8) e Poente do Sol Nascente (Prêt-à-Porter 5).
TEMPO FESTIVAL: Qual a importância do Pret’a’Porter para os atores?
EMERSON DANESI: É fundamental e também é o nosso trabalho de base. Temos o curso “CPTZINHO” e que todos os alunos farão, construirão cenas. Para Antunes o ator criador é resultado de um trabalho de formação do ser, do indivíduo, do cidadão. Portanto, essa possibilidade de autonomia que ele dá aos atores de escreverem, dirigirem e atuarem é uma experiência fabulosa no processo de individuação, de compreensão da técnica e de percepção da sensibilidade e estética (de cada ator) enquanto artista.
TEMPO FESTIVAL: Como foi o processo de ensaio do espetáculo a ser apresentado no TEMPO?
EMERSON DANESI: Cada cena foi criada e elaborada em um momento específico, fizeram parte de programas diferentes. Com a Coletânea tivemos que entrar em contato novamente com esses universos abordados nas cenas. E foi maravilhoso, depois de tanto tempo afastados, adentrar de uma maneira mais amadurecida (todos nós atores continuamos vivendo nossas vidas e hoje uns casados, com filhos, com uma bagagem maior) nelas. O resgate, a compreensão mais profunda desses seres e dessas relações foi incrível. Estamos muito felizes!
TEMPO FESTIVAL: O Prêt-à-Porter possui uma estrutura cênico-dramatúrgica bem definida. Haveria um “Dogma Prêt-à-Porter” (utilizo dogma aqui em referência aos preceitos definidos por Lars Von Trier e Thomas Vinterberg no movimento Dogma 95)?
EMERSON DANESI: Engraçado…quando começamos o processo de cenas lá em 97, o Dogma ainda não tinha chegado ao Brasil. Quando lançamos muita gente da platéia fazia essa associação, o que achamos bárbaro, já que o apoio desses filmes estava também centrado no ator e com poucos recursos técnicos aparando a produção. Foi uma “coincidência” ou, como diz Jung, simultaneidade!
TEMPO FESTIVAL: Quais são as suas expectativas para as apresentações no TEMPO FESTIVAL?
EMERSON DANESI: O Rio, graças, sempre nos recebeu muito bem! Há um carinho pelo CPT, pelo Antunes. Enfim, espero que aqueles que não conheçam o projeto possam entrar em contato com essa idéia e aqueles que já viram matem a saudade…