TRADUZIR

TURBILHÃO

Foi um tira-gosto, um canapé, uma prévia do que ainda está por vir. O 1º TEMPO_FESTIVAL durou três dias nesta nova etapa, e trouxe instalações, debates, vídeos e uma parceria com a peça Trabalhos de amores quase perdidos.

Dirigido por Pedro Brício e com Branca Messina, João Velho, Lucia Bronstein e Pedro Henrique Monteiro no elenco, a peça recém-estreada no Espaço Cultural Sérgio Porto com o cenário sempre criativo de Aurora dos Campos e o figurino assinado por Luiza Marcier fala de amor nos tempos atuais.

Com um título que cita uma das primeiras comédias de Shakespeare Trabalhos de amor perdido e com inspiração no antológico filme de Truffaut Jules et Jim, a peça, dividida em dois tempos, mostra dois casais, dispostos lado a lado olhando para a platéia, na tentativa de construir, ou talvez reconstruir a história deles.

Mariana e João estão em vias de terminar, e Marcos que ora namora Simone, ora namora Ludmila, é ex-namorado de Mariana e tenta narrar o que está acontecendo enquanto antecipa o que virá. Acontece que Marcos ainda gosta de Mariana, e sua narração nada mais é que uma tentativa de mudar o curso das coisas, numa vã esperança de controlar o acaso, que se faz presente na vida e, principalmente, nos relacionamentos:

On s’est connus, on s’est reconnus.

On s’est perdus de vue, on s’est r’perdus d’vue.

On s’est retrouvés, on s’est réchauffés,

Puis on s’est séparés.

Chacun pour soi est reparti

Dans l’tourbillon de la vie,

já cantaria Catherine para Jules e Jim.

A tentativa de ficcionalizar a realidade é o tempo todo combalida com o mote “Essa cena não existe”, ao mesmo tempo que lembranças surgem de caixas de papelão, e histórias bem sucedidas, onde o destino, transfigurado em Plusvita e Jontex,  interfere na vida das pessoas fazem com que os personagens envolvidos acreditem que uma mudança possa acontecer a qualquer momento.

Talvez seja esse o grande mérito da peça dirigida por Brício: o que vemos durante um pouco mais de uma hora, nada mais é do que fragmentos de relações contemporâneas, onde os anseios mudam constantemente, contrapostos a um sentimento romântico que precisa encontrar no outro um alicerce para dar certo. Em tempos de tecnologias voláteis e de mudanças recorrentes, impossível não se identificar com uma das histórias, ou um dos personagens.

Categorias: Blog. Tags: Branca Messina, João Velho, Lucia Bronstein, Pedro Brício, Pedro Henrique Monteiro, Shakespeare e Truffaut.