TRADUZIR

NO APAGAR DAS LUZES

 

Fui ver a peça Arrufos do paulistano grupo XIX no primeiro dia do 2° Tempo Festival. Fila longa, algumas pessoas conhecidas, e um burburinho logo na entrada: era necessário entrar aos pares. Um rapaz surge na porta de entrada, explica um pouco do espetáculo, e nos conduz até nossos assentos – a escolha do lugar fica por conta dele, o par é livre arbítrio.
No centro do palco há uma instalação vermelha como cenário, entre ferros estão contidas nossas cadeiras, cobertas com almofadas e pequenos abajures. Uma vez acomodados e confortáveis deveríamos desligá-los para que dessa forma, todo o foco se voltasse para o espetáculo. A estranheza reinava ali no escuro, e uma curiosidade tomava conta à espera do começo que surgia com gemidos sexuais.


Em um Rio de Janeiro antigo, a temática que costura o desenrolar de várias histórias é o amor. São narrativas entrecortadas que vão se desenvolvendo com a participação do público, e com elementos de obras e autores clássicos, como Romeu e Julieta, Madame Bovary e Machado de Assis. Durante uma hora e meia somos imersos em mundos familiares de expectativas, ilusões, sofrimentos e paixões.  Em algumas horas a peça divide a atenção do público, outras se torna quase um monólogo. Apesar de para muitos o amor ser uma temática banal, a forma como naquela noite ela foi apresentada, confesso que me surpreendeu. Nada do que foi falado ali era novidade, mas a forma, que passava do constrangimento ao desconforto, à sensação de se estar pronto até ao riso, acredito que cativou quem estava no Gláucio Gil. Arrufos, diferente do significado direto da palavra, não encrespou ninguém, e muito menos irritou. Pelo contrário, foi, com sua execução diferente e inspirada um belo presságio do que o 2° Tempo do Festival ainda iria mostrar.

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