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A REVOLUÇÃO DO AMOR – PARTE 2

Há coincidências que me deixam muito feliz. Mal havia escrito o primeiro post com este título e editado a entrevista com a atriz Janaína Leite, chego no Teatro dos 4, onde estou em cartaz com “As Pontes de Madison” – outra história de amor que coloca em xeque alguns conceitos ordinários sobre o tema. E não é que a atriz Denise Del Vecchio me presenteia com um artigo do Contardo Calligaris na Folha de São Paulo que complementa de maneira muito interessante aquela primeira conversa? O artigo, publicado dia 27 de maio, está também em seu blog.


O título já diz bastante de seu conteúdo: “A coragem do amor que dura”. Tomando a liberdade de resumir seu conteúdo, o artigo faz uma reflexão sobre o enaltecimento hoje em dia das atitudes de ruptura e liberdade, em detrimento dos que “passam a vida deslocando baldes para estancar as goteiras”, como se estes fossem covardes ou acomodados. E usa inclusive um termo que Janaína também usa em nossa conversa, de que o amor é uma construção.
No fim ele diz que o amor, entendido como essa construção ao longo do tempo, é a possibilidade que temos de aprender a enxergar o mundo através de outra janela que não a nossa própria. Enfim, leia o artigo se você quiser entender melhor o que ele quis dizer com isso, pois vale muito a pena.
A conexão entre esses dois depoimentos sobre o amor – a entrevista com Janaína e o texto de Calligaris – me fez pensar se não é o teatro também uma possibilidade de exercitar esse “olhar de uma outra janela”. E, sendo isso entendido como amor, se não é o teatro também um ato de amor. E, sendo o amor uma construção que precisa ser desenvolvida ao longo do tempo, se não é o teatro uma atividade que exige tempo, confiança e paciência.
E é por isso que o teatro, e as artes em geral, são tão importantes. Para preservar essas janelas abertas. Para que as pessoas possam ampliar sua visão de mundo. E transformá-lo com sabedoria.
Que o diga o mestre Kazuo Ohno, que se apresentou pela primeira vez com 43 anos de idade, e dançava até bem pouco tempo, cada vez melhor, diga-se de passagem.

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