(Não me responsabilizo por palavras de insônia. Quando acordar no dia seguinte reivindico o direito de negar tudo que escrevi. Afinal: o eu é o outro!)
Nos debates dessa quinta-feira chuvosa enquanto o TEMPO rasgava furiosamente os véus da cidade do rio, do lado de dentro no teatro da Oi o clima rolava estável e harmônico em boa parte do TEMPO. Na primeira rodada a discussão sobre o tempo físico segundo a visão de Mário Novello. Na segunda rodada, a discussão do tempo na cultura debatida por críticos e artistas de diferentes meios. E aqui lanço algumas reflexões que me ocorreram em meio ao debate:
Mas afinal o que QUER o nosso con(tempo)râneo? Desmontado o ideal de progresso, falido o projeto ‘messiânico’ das vanguardas paralelamente a dissolução das utopias políticas, o que QUER isso que julgamos ser o nosso TEMPO? Será que o NOVO continua valendo como indíce e critério nisto que classificamos como con(tempo)râneo? O NOVO é realmente um valor indespensável para a criação artística? Há uma tendência de localizar e identificar o que seria o con(tempo)râneo, seja pelas novas mídias, seja pela diluição das fronteiras da arte, auto-ficções, vontade de real. Mas não haveria nessa tendência de classificar e localizar forçosamente categorias uma atitude moderadamente MODERNA? MAs não seria o Novo uma construção essencialmente moderna? o novo de novo? Reparo como nosso pensamento se embaraça ao tentar localizar aqui ou ali esse NOVO que garantiria então o status de nomear isso ou aquilo de con(tempo)râneo. Sinto que diante do desamparo (político, estético e ético) dos nossos tempos nos sentiríamos mais confortáveis, apaziguado e protegidos em determinar, definir e classificar o que acontece realmente de NOVO em nosso tempo. Percebo a partir dessa vontade (irrefreável) de novo, sobretudo estilmulada por uma cultura tecnológica e consumista, uma tendência a normatizar o nosso tempo. O NOVO normatiza. Pois o NOVO soa sempre como valor universal, tende sempre a generalizações. Não seria, por outro lado, mais inquietante (se bem que também desconfortável) mais arriscado perceber que o que está em jogo no con(tempo)râneo é justamente a falência desse ideal do NOVO? Em meio a diluição e os trânsitos do nosso tempo não seria vital tirar esse peso das costas e gritar que o NOVO morreu! Sim, é preciso admitir que o NOVO deixa saudade, deixa sempre essa bruma de nostalgia -“ah, onde estão as vanguardas?”. Porque o que nos foi prometido pelas velhas vanguardas é que o NOVO nos salvaria. Nasci em uma geração que sentia saudades e se identificava plenamente com os tempos que nunca viveu. E enaltecemos as conquitas dos velhos tempos (os heróis de 68, os gênios de 22) Mas e hoje?! Sejamos honestos: dos que não morreram , não enlouqueceram ou não deprimiram,em grande parte, nossos antigos heróis se tornaram os figurões do mercado financeiro. Não adianta procurar porque o NOVO não vem. Tudo que vem de NOVO e ganha ares de espetáculo se sustenta apenas por um narcisismo compensador de nosso desamparo.
Porque é tão dificil perceber nesse desamparo con(tempo)râneo um valor positvo? Talvez esteja aí a possibilidade de perceber no pequeno, na moeda miúda do atual, um valor. O NOVO bateu asas, e o que nos restou foi essa moeda miúda. O futuro é coisa do passado. Essa parece ser a condição de instabilidade do nosso tempo: o instante presente. E aí não tem jeito. Porque de um presente ao outro o que menos importa é o que se sustenta, o que menos importa é o que permanece. Os valores de nossa moeda miúda são tragicamente transitórios, instáveis e para sempre insuficientes . E se por um lado essa indeterminação radical tira os nossos convencionais apoios, por outro lado nos dá uma liberdade, um descompromisso reconfortante. Uma irresponsabilidade criadora. Mas permanentemente angustiante. Enfim: Para onde nos dirigimos? O que importa! Essa pergunta não pode ser formulada sem soar algo moralista, algo nostálgica.
Lanço a última provocação:
Seria demais pensar que o que separa um genial Mozart da cantora Stefhany (aquela do crossfox, fenômeno do youtube, Stefhane com ‘FH’ se lembram?) é uma linha muito tênue? Essa é uma provocação, mas também, um sinal de nossos tempos. Não tem jeito: o pequeno revolta-se contra o grande. E temos que suportar a pressão. Mas alguém ainda se lembra da Stefhany? E aí que o esquecimento também se torna um importante valor.