Terceiro sinal. DULCE tem início no Oi Futuro às 18 horas e 30 minutos.
Ao fundo do palco, quatro retratos enormes dos meninos que foram Nuno, Michel, Thiare e Flávia.
Abaixo dos retratos, os pés dos adultos são revelados. Diante dos retratos, a boa e velha mesa de jantar.
Os retratos fotográficos são deslocados pelos atores que, após fazê-lo, ficam paralisados com faces sorridentes. O retrato de infância dá lugar ao retrato do teatro: now is now. As estátuas que os atores fazem de si, conforme o tempo passa, revelam tiques localizados, pequenos curto-circuitos no corpo, espasmos do retrato. Uma alternância de depoimentos e discursos entre portugueses e brasileiros traça perfis dos atores. Espasmos. Uma taça de vinho é quebrada sem querer, por distração.
Estamos agora em um jantar, em uma living room, palco das melhores (e das piores) interlocuções dramáticas.
Neste jantar, dois casais, um português e outro brasileiro brindam: ao amor, por um lado, ao desespero, por outro. A cena se desenvolve diante da platéia e os casais trocam confidências, juras de amor, farpas, piadas e acusações. Tudo poderia correr bem, não fossem os espasmos. A cena, como os atores no início do espetáculo, apresenta, ela mesma, pequenas interrupções, círculos, voltas e loopings. Por isso, o desenrolar da ação retorna a pontos que, aparentemente, já passaram. As cenas se repetem, os atores se repetem, as falas se repetem, as posições se repetem, repetições do mesmo que não conduz ao mesmo, mas ao outro, uma mesma-outra cena, um mesmo-outro retrato, fixar para tremer, posar voluntariamente para fazer aparecer o involuntário, aquilo que não tem controle, aquilo que escapa e (talvez por isso) defina o próprio retrato.