Ao tomar conhecimento de OTRO, título do novo espetáculo do Coletivo Improviso, não há como evitar a menção à célebre frase do personagem Garcin que encerra Huis Clos (Entre quatro paredes), de Jean Paul Sartre: “O inferno são os outros”. Neste caso, porém, a frase deveria ser lembrada em sua tradução espanhola, isto é, “El infierno es el Otro“.
Não que OTRO, que está em cartaz no Teatro Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, (em uma co-produção do TEMPO FESTIVAL com os seguintes festivais e instituições: Wiener Festwochen, La Ferme du Buisson (Scene Nationale de Mane-la-Vallée), Hellerau (European Center for the arts, Dresden), Kunstenfestivaldesarts, Le Maillon – Scène Européene Théatre de Shasbourg), trabalhe a partir da perspectiva sartriana. Entretanto, pode-se dizer que a relação entre a liberdade individual e contingência do outro permeia a investigação do coletivo, certamente por outras vias que podem vir a atravessar o inferno de Garcin. O pensamento, por exemplo, de que apenas através do olhar do outro é possível perceber-se a si mesmo pode servir como elo de ligação (e de separação) do texto dramático e da performance cênica.
O título em espanhol revela um aspecto interessante da pesquisa do grupo: a língua espanhola e a portuguesa apresentam muitas similaridades. Reconhecemos, por exemplo, o outro português no otro espanhol. Trata-se aqui de uma espécie de semelhança distante, do reconhecimento de algo próximo em uma língua que não é a materna (para nós, países de língua portuguesa). É neste espaço de reconhecimento entre as línguas que parece surgir o espetáculo do Coletivo Improviso. Um espaço que, se por um lado, opta pela palavra em espanhol, por outro, realiza uma cisão do termo português (ou-tro), de modo a sublinhar as múltiplas possibilidades conectadas pela conjunção (ou) resultante da operação.
Assim, o otro é o ou do outro. Ou ainda, o ou é o otro do outro. Ou, o outro é otro do ou. Ou… ou… ou… (nada se fecha, tudo se abre. no sergio_porto: sextas, sábados e domingos: até 16 de maio.)