O que é nacionalismo? Um sentimento, uma doutrina, um regime ou uma comunhão que vemos em momentos de Copa do Mundo? Segundo o historiador chileno Gabriel Cid, que acaba de lançar em seu país o livro “Nacionalismos e identidade nacional no Chile. Século XX“, o nacionalismo é polissêmico e pode abarcar todos os sentidos descritos anteriormente.
A diversidade de sentidos que o termo nacionalismo suscita pode ser observada por meio dos espetáculos nacionais do Santiago a Mil. Experiências como La Mala Clase e Villa + Discurso, que foram assunto do post anterior, tratam de encenar retratos de um país contraditório, que oscila entre a prosperidade econômica e a precariedade social. Outro retrato chileno é realizado no espetáculo de rua La Larga Noche de los 500 años, de Ignacio Achurra, encenado em plena Plaza de la Constitución.
Em La Larga noche, Achurra retoma o passado colonial chileno para encenar, nas ruas da cidade e diante de um dos edifícios mais importantes de Santiago, as ambiguidades que marcam a origem da nação. Aqui, os protagonistas são os índios Mapuche, povo que é símbolo de resistência na luta contra os espanhóis, há mais de 500 anos, e nos conflitos que envolvem o Estado Chileno ainda hoje. Se, por um lado, chilenos e latino-americanos já estão carecas de saber da história de dominação que marca a origem das nações do continente, por outro lado, tal história é contada no espetáculo de modo um tanto quanto criativo, fato que traz uma perspectiva diferenciada para o tema, sem os discursos inflamados e catequisantes. Uma banda de rock, montada sobre um caminhão, dá o tom do espetáculo, construído a partir de mímicas, figuras clichêtipicas (como a do próprio índio, mas também a do executivo, por exemplo) e muito humor.
Já El Olivo, espetáculo dirigido por Luis Guenel e que compõe a seleção emergente chilena, coloca sobre o palco um grupo de homens e mulheres chilenos que convivem em um pequeno bar de uma cidadezinha bem distante da capital. A atmosfera em que vivem os personagens é marcada pela resignação até que é anunciada a chegada de um barco, imagem de esperança nas vidas de todos, que anseiam por uma mudança em suas vidas. Em entrevista concedida ao TEMPO (e que em breve será publicada em nossa TVTEMPO) Guenel afirma a sua preocupação em revelar aos espectadores um país que não é divulgado oficialmente. O ar pesado respirado por seus personagens, que remete tanto às criaturas de Tchekhov quanto às de Harold Pinter, é aquele de um país que sobrevive em condições desfavoráveis e conflitantes.