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26 DE MAIO: O 2o. TEMPO (LATINO-AMERICANO) DA ALEMANHA

2o. Tempo iniciou-se sob nebulosa alemã. Dos três espetáculos que inauguraram o festival, neste 26 de maio, dois traziam em suas estruturas cênico-dramatúrgicas elementos textuais de polêmicos autores –  um nascido na Alemanha outro fez dela seu principal alvo. Ambos apresentavam visões próximas e avassaladoras da cultura germânica.

Na Lapa, Heiner Muller. Em Ipanema, Thomas Bernhard.

O título do espetáculo de Georgette Fadel, que costumamos, até mesmo aqui no site, abreviar, é, na realidade, uma poderosa chave de leitura para a encenação. “Quem não sabe mais quem é, o que é, onde está, precisa se mexer” não é o tipo de título-decoração. De fato, ele revela a proposta de encenação escolhida por Fadel ao se aproximar do universo de Heiner Muller.

Se nos atermos um pouco mais ao título, descobriremos a angústia imbricada nele. Se você não sabe responder:

Quem é você?

O que é você?

Onde está você?

Você precisa se mover.

É um imperativo que, ao longo do espetáculo, se complementa, de um lado, com o rico gestual dos três atores e, de outro lado, com uma das falas repetidas por eles: movimentar-se para ter a consiciência das amarras que o prendem (ok, não é isso exatamente, mas creio que é essa a idéia). O movimento, portanto, não leva a uma consciência, mas é resultado da falta desta. Por consequência, o que temos é um Absurdo em forma de apartamento-gaiola construído por coleções e séries de objetos retirados de suas funcionalidaes habituais. De fato, nada neste espetáculo é meramente hábito. Ele parte do hábito e o transforma em puro Absurdo, o revela como apatia, como movimento mecânico, quimera dos seres humanos.  Aqui, aparece com força total a já conhecida questão nietzschiana a respeito da vida que dissimula a morte. Neste caso, retoma-se a morte, os mortos-vivos, os zumbis que somos todos nós. Tudo com muito humor, e isto é um dos grandes trunfos do espetáculo. Trata-se de uma comédia do Absurdo em que vivemos – escolha estética absolutamente diversa daquela em que se vê no chileno Comida Alemã, de Cristían Plana.

Na estréia brasileira no Oi Futuro em Ipanema, o início do espetáculo já institui a polaridade. O coro de jovens, agrupados todos em uma escada, e uma única madre que, ao se mostrar ao público, trata de colocar no prato de sopa de cada jovem, uma pequena dose de um líquido que não sabemos o que é. Este líquido talvez possa remeter ao chá alucinógeno de Alice. E, de fato, quando os jovens bebem (e nós também) a realidade passa a ser vista de modo distorcido, como se a assistíssemos pelos reflexos (internos e externos) de uma colher.

A Alemanha de que se fala aqui é aquela que todos nós conhecemos, pelo nazismo. Mas isso é muito redutor. O espetáculo, atarvés da imponência de um violento silêncio nos revela a ação de jovens alienados e o sonho do opressor.

(to be continued)

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