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TEMPO e a qualidade do TEMPO

Por Cesar Augusto |

Em 2016, o TEMPO_FESTIVAL trouxe uma palavra como conceito: SOMOS, uma palavra-chave para nortear o que estava por vir, espetáculos nacionais e estrangeiros, montagens inéditas, intercâmbios, exposições, performances e processos capazes de criar uma rede de interesses artísticos e culturais ao tecer um diálogo aprofundado entre a programação e o público.

O nosso desafio é — sempre foi e sempre será — estabelecer uma ponte, sem esquecer que esta aproximação é uma via de várias mãos e sentidos, no intuito de criar estímulos que nos aproximem e se relacionem com questões atuais.

Foram sete dias de programação, foram oito espaços ocupados, treze espetáculos estrangeiros, quatro montagens brasileiras inéditas, mais de uma centena de artistas e técnicos, quatro países envolvidos. Isso define um festival e esses dados revelam não apenas a sua relevância, mas também a sua responsabilidade perante a cidade, ao país e ao público.

Entre as atrações, trouxemos para o Rio de Janeiro o ator, escritor e diretor inglês Tim Crouch com seu “Eu, Malvolio”; o coletivo Wunderbaum, um dos principais representantes da cena contemporânea dos Países Baixos; e, dentro de um recorte especial da cena polonesa, os espetáculos “Apocalipse”, do diretor Michal Borczuch, “Na Solidão dos Campos de Algodão”, de Radoslaw Rychcik, “Pequena Narrativa”, de Wojtek Ziemilski, e “Ewelina Chora”, de Anna Karasinska. Encontros e debates e a “Mostra de Vídeos Tadeusz Kantor” ainda foram organizados em cooperação com o Instituto Adam Mickiewicz, cofinanciado pela Prefeitura de Varsóvia.

“Monólogos de Gênero”, vídeo-instalação da artista visual e fotógrafa Diana Blok, com a participação de Dani Barros, Grace Passô, Mateus Solano, Matheus Nachtergaele e dos artistas holandeses Abke Haring e Cas Enklaar, e o solo Invisível, fruto da Residência Artística Holanda-Brasil (HOBRA), com a atriz Mariana Nunes e concepção de  Jörgen Tjon A Fong e Patrick Pessoa, também foram apresentados, endossando o comprometimento do festival com questões emergenciais.

Aderbal Freire-Filho apresentou seu mais recente trabalho, “A Paz Perpétua”, que seguiu em cartaz na cidade após a estréia no TEMPO, resultado da parceria iniciada na edição anterior do festival com o lançamento de livros e leituras da nova dramaturgia espanhola junto à editora Cobogó.

Em um ano conturbado e instável como foi o de 2016, nos colocamos à prova. Estamos diante de uma realidade acachapante ou uma ficção premeditada?

Lidar com o campo ficcional, a partir de exemplos documentais e transformadores, foi decisivo para provocar o diálogo e suscitar as dúvidas que nos afligem e que, por vezes, encontram-se no campo ainda do inominável, do indizível ou mesmo do estarrecimento. Esses foram estímulos para que nos debruçássemos sobre questões necessárias para promovermos a reflexão.

Neste sentido, incentivamos e encontramos meios para instigar o pensamento sobre este “futuro aproximado” que só poderá ser entendido com a noção de que SOMOS parte de um todo, que vai muito além das barreiras geográficas, sociais, econômicas, culturais, religiosas, políticas. SOMOS palíndromos, frases ou palavras que podem ser lidas da esquerda para a direita e da direita para a esquerda — dado que merece toda a atenção nos dias atuais.

Com o TEMPO_FESTIVAL, procuramos abrir caminhos e fronteiras para a mudança. Afinal, a cultura tem o dom de fomentar uma visão mais ampla sobre o mundo e sobre nós.

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Cesar Augusto é, ao lado de Bia Junqueira e Marcia Dias, criador, diretor e curador do TEMPO_FESTIVAL

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