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A FLORESTA QUE ANDA

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A condição política se revela no sujeito também na maneira como a própria história dialoga com os acontecimentos. Reconhecer a ambos e separá-los tem se tornado inútil no contemporâneo. Assim, o sujeito passa a ser menos o acúmulo e mais a afirmação dessa sobreposição. Se o primeiro propõe um estado caótico ao homem, o segundo exige ao todo, a cada acréscimo, se moldar às novas interferências. Nesse sentido, a política deixa de ser um elemento particular e dialoga com a própria construção do homem. Partindo da perspectiva em investigar a relação entre política e o viver, Christiane Jatahy apropria-se do texto clássico Macbeth, de William Shakespeare. O experimento, em forma de vídeo instalação e performance, que parte da realidade para a ficção, propõe a presença do público como elemento participativo, sem, no entanto, impor-lhe tal condição.

Uma performance invisível, portanto. Realizando diversas entrevistas e abrindo encontros com 30 pessoas, pelo período de três horas, semana antes da apresentação, Jatahy provoca com as histórias pessoais relações mais profundas com as questões políticas que as atingem. Para tanto, a ambiência cênica projetadas tais pessoas ao público, em telas móveis e labirínticas, somando-lhes imagens registradas dos próprios espectadores e editadas em tempo real. Dessa vez, a particularidade está no assumir a condição política do ser, e não apenas no ser. Um espetáculo que se oferece experiência no movimento de olhar a si mesmo em plena construção. O teatro deixa de ser a contemplação de uma paisagem de discursos inertes e passa a surpreender o espectador, assim com a floresta criada por Shakespeare, com a mobilidade das entranhas exposta de todos nós.

Christiane Jatahy começou a pesquisa sobre os clássicos com “Julia”, a partir do texto homônimo de August Strindberg, e “E se elas fossem para Moscou?”, sobre “As três Irmãs” de Anton Tchekhov. Em ambos os espetáculos, assim como em “A Floresta que Anda”, os textos servem de estímulo original para adaptações livres, e se constroem por uma ampla pesquisa estética de intersecção entre teatro e cinema. O experimento cênico é uma coprodução do TEMPO_FESTIVAL com o CENTQUATRE (França), SESC e Cena Contemporânea.

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